Keila Málaque
Tia Eufrozina, uma Almeida miudinha que terminou seus dias em Cruzeiro do Oeste no Paraná, era doidinha por flores.
Quando o marido comprou uns poucos alqueires de terra no Mato Grosso (sonhando, quem sabe, com uma lavoura de milho ou algodão) ela apareceu contando pra vó Zefa que a terra era boa toda vida… pra prantá fror. As duas Almeidinhas voltavam das visitas aos parentes administrando latinhas e sacos plásticos: duas mudas nesse, quatro bulbos naquele, dez gramas de sementes no terceiro… e o desejo de flor foi varando gerações até aterrissar em versões mais sofisticadas como o orquidário impecável da tia Aurora ou os projetos paisagísticos da prima Eliana.
Mas se a tia Frozina morasse no Canadá, ia virar a cabeça de vez (que os Almeidas já são um pouco virados anyway). Passada a fase repressiva e introversa do inverno, ela debutaria no começo da primavera com as prímulas, se expandiria abril adentro com as tulipas e, em maio, explodiria na intensidade dos rododendros. Iria para a cama ruminando estratégias para acabar com as ervas daninhas (porque não é só flor o que aparece na primavera) e acordaria aterrorizada na madrugada sonhando que lesmas lhe devoravam as rosas.
Suas economias – as da aposentadoria precisamente – seriam consumidas em terra para vaso, adubo orgânico e esterco de cogumelo. E, andando pela calçada, fingiria amarrar os sapatos enquanto roubava uma mudinha de lobélia do vizinho de baixo. — Mas que coisa feia, gente, isso são modos de uma senhorinha da sua idade?
Ainda bem que a tia Flozina nunca morou no Canadá.
Vancouver, junho de 2014
Adalberto Camargo
•6 anos ago
"Tia Frozina", como a chamávamos com carinho, era irmã de minha avó Silvina. Parente bastante aguardada em casa, era uma das tias mais queridas de minha mãe Jacy… Ainda guardo a imagem dela na memória, chegando em casa, lencinho bem ajeitado na cabeça e malinha na mão. Eram dias muito agradáveis!…