(Texto extraído e adaptado do livro Mineiros em Terras Paulistas, de Keila Málaque)
Como meus ancestrais, José Capitão também morou em Lençóis na segunda metade do século 19 e teve muita coisa em comum com nosso povo: era mineiro (de Passos), passou por Brotas e, no futuro, seus descendentes seriam nossos parentes, amigos ou vizinhos. Mas ele chegou em Lençóis bem antes, quando a situação ali era ainda mais precária.
Edson Fernandes, pesquisador de Lençóis, cita uma compra em 1863 de 120 alqueires de terras no distrito de Lençóis por José Pereira Simões, que era o nome verdadeiro do José Capitão. A fazenda teria custado um conto e meio de réis e metade dela, 60 alqueires, era cultivada com milho. Esse milharal a perder de vista faz todo o sentido se a gente considerar que o negócio dele era criar e engordar porco, e porco naquela época se criava solto na roça de milho.
Mas diferente dos nossos, José Capitão virou protestante bem antes, já por volta de 1875. Ouviu a mensagem em mau português do colportor Bartolomeu Reviglio, que teria sido o primeiro italiano presbiteriano do país; foi contratado por Blackford para distribuir Bíblias entre a colônia italiana do interior de São Paulo.
Mas imagine a mudança que isso significou na vida do José Capitão, que era totalmente virada do avesso. Diz o jornal O Estandarte, de 1914, que quando ele levava a porcada numerosa pra vender em São Paulo, Santos ou Rio de Janeiro, voltava de algibeira vazia, porque dissipava o produto da venda nas tascas imundas, nos imundos lupanares abjetos, nas pervertidas bancas de jogo e nos antros de podridão moral. Em outras palavras, queimava o dindim com bebida, mulher e jogo.
Sua conversão levou uns 15 anos e, na saideira, ele passou 15 dias fora de casa, bebendo 24 horas por dia. Quando voltou pra casa, estava louco, alucinado. Espancou um dos filhos e por cinco dias tentou matar a esposa. Depois, apareceu na vila de Lençóis em trajes de Adão portando duas armas de fogo. Foi preso, medicado e, quando saiu do xadrez, o corpo limpo do álcool e a cara lavada, era outro. Pagou suas dívidas e passou a falar do evangelho pra quem encontrasse na frente. E fazia isso naquele jeito bem delicado dos evangelizadores do século 19: ou crê ou morre!
Com a esposa Helena (Ribeiro de Castro) José Capitão teve nada menos que 17 filhos e, quando morreu em 1913, por volta dos 100 anos, tinha 138 netos e uns 30 bisnetos. Aí dá pra se ter uma ideia do tamanho da descendência que ele deixou — os primeiros assinando Pereira ou Ribeiro de Castro, e os seguintes, qualquer coisa. Entre eles, até o primo Zizo, de quem José Capitão foi trisavô.
Nota: José Capitão foi pai de Ana Rosa Pereira de Castro (casada com Henrique Murbach) e de Sansão Pereira de Castro (casado com Francisca Mendes de Castro), que viveram em Iepê, na região da Agua do Atalho, desde a década de 20 do último século. Até o presente, não localizamos parentesco entre essas famílias e os Ribeiro de Castro dos irmãos Azor, Naor, Aor, Elpídio, Turibio, Turbio, Arnolfo e Matuzalem (ou Matuzael) – vários desses também com residência em Iepê (na Água do Atalho, inclusive) desde a década de 1920.
#familias-formadoras-ipi-iepe
EDUARDO CARLOS PEREIRA BARBOSA
•4 anos ago
Minha antepassada é a Laura Ribeiro de Castro Pereira Simôes filha do Zé Capitão. Nossa família cresceu aqui na região de Osasco. Meu avô Aquiles Gonçalves (neto de Laura, sua mãe chamava-se Levina) foi fundador da IPI do Helena Maria em Osasco.
Gostaria de saber mais sobre essa história.
Blog Yepé
•3 anos ago
Olá,Eduardo, faremos contato se tivermos acesso a mais informações.
EDUARDO CARLOS PEREIRA BARBOSA
•3 anos ago
Encontrei 3 periódicos de “O Estandarte” narrando a história do Zé Capitão. Alguns filhos e netos foram viver em Jaguapitã – Paraná.
Dalva Alice De Matos Bueno Segado
•3 anos ago
Sou bisneta de Elpidio Ribeiro De Castro que morava em Jaguapitã e tataraneta de Henrique Murbach e Ana Rosa.
Wagner Murbach Nogueira
•2 anos ago
Sou Wagner Murbach Nogueira , sou tataraneto de José Pereira Simões e bisneto de Henrique murbach, neto de jacob murbach ,minha mãe Nehy murbach Nogueira, meu pai presbítero Walter Nogueira, neto do Rev.Caetaninho da i.p.i.,sou de jaguapita pr
Hilka Pereira de Castro
•2 anos ago
Obrigada por compartilhar aqui uma parte da nossa história! José Capitão é meu tataravô. Sou trineta de Manoel Pereira de Castro, uma parte da nossa família faz parte da IPI da Vila Carrão em São Paulo.