José Lino Sant’Ana (à direita de costas) com amigos no Rio Paranapanema nos anos 1920. |
Keila Málaque
Zé Lino, irmão de meu bisavô, foi um dos que chegaram nos Três Coqueiros em 1917. E, pra mim, ele era um tipo diferente. Os outros tinham uma vidinha mais clássica – criavam porco, plantavam café e a rocinha de sempre. O Zé Lino também teve a rocinha, o café e ainda extraía mel. Teve até uma serraria que depois vendou pro Seu Vitório Menegon. Mas ele gostava mesmo era de andar pelo mato – caçar, pescar – e de mato ele entendia bem.
Quando vinha gente de São Paulo pra pescar no Paranapanema (pros lados do Morro do Diabo, no pontal) era o Zé Lino quem liderava a expedição. Minha mãe conta que uma vez, caiu um avião nas redondezas e foi ele quem coordenou as buscas. Zé Lino parecia mais livre, mais solto. Do grupo de 1917, foi quem mais teve terras nos Três Coqueiros (no começo, pelo menos). Eram 165 alqueires, que valiam perto de 25 contos de réis e, como as do bisavô, devem ter sido compradas do Dr. José Theodoro Bayeux.
Segundo a Aldina, sua filha, no tempo em que moravam perto de Botucatu, o pai vivia viajando pra procurar terras, e também pra comprar e vender burro. E que, antes de comprar as terras do Três Coqueiros, eles de fato pensavam em ir pra mais longe, talvez Mato Grosso ou Paraná. O triste da história é que, com a morte da Aldina, perdemos completamente o rastro da descendência do Zé Lino. Precisavam ser tão livres, tão soltos?
Até que um dia, do nada, surgiu a Claudete. Escreveu uma cartinha, se identificou como filha do Onésimo, neta do Zé Lino, e contou que o avô foi embora de Iepê por insistência da esposa, que os filhos precisavam estudar.
Não me contive! Escrevi uma cartinha de volta, falei da minha alegria pelo contato, e quase pedi que, por favor, não se extraviassem mais! E que se lembrassem do poema do Drummond: Não nos afastemos. Não nos afastemos muito, vamos de mãos dadas…
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